quinta-feira, 4 de agosto de 2011

20º Domingo Comum - ano A


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

Vigésimo Domingo Comum

Mt 15, 21-28

“Mulher, que fé tão grande tu tens”


Oração do dia

Ó Deus, preparastes para quem vos ama bens que nossos olhos não podem ver; acendei em nossos corações a chama da caridade para que, amando-vos em tudo e acima de tudo, corramos ao encontro das vossas promessas, que superem todo desejo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus (Mt 15,21-28)

Naquele tempo, 21Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia. 22E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava: Senhor, filho 23Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue com seus gritos. 24Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. 25Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: Senhor, ajuda-me! 26Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. _ 27Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos... 28Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada. 
Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO

As comunidades de Mateus, semelhantes às nossas de hoje, viviam certas tensões provenientes das diferentes tendências teológicas e pastorais no seu meio. Uma das tensões - que aliás causou muita dificuldade na Igreja primitiva, como Atos e as Cartas Paulinas testemunham - se referia à questão da integração de judeus e pagãos nas comunidades cristãs, em pé da igualdade. É esta tensão interna que está subjacente à história relatada pelo texto de hoje.

Os versículos anteriores (15,1-20) versaram sobre a questão do puro e impuro, especialmente em referência aos alimentos. Mas, entre as pessoas também havia classificação de puro e impuro - uma distinção trazida para dentro da comunidade mateana pelos convertidos provenientes da formação farisaica. Os judeus não podiam comer com os pagãos para não se contaminar. Jesus veio abolir tal distinção, tornando acessível a qualquer um o dom de Deus, pela fé na sua pessoa. Que esse princípio foi muito difícil para os judeu-cristãos aceitarem é bem ilustrado pela controvérsia que levou ao Concílio de Jerusalém (At 15) e pela polêmica entre Paulo e Pedro na Igreja de Antioquia - talvez o berço da última redação de Mateus - como relatado em Gl 2,11-14.

O local do relato é a região de Tiro e Sidônia - o atual Líbano. Jesus é confrontado por uma mulher desesperada por causa da doença da sua filha (“atormentada por um demônio”, na visão da época). Ela é uma pessoa duplamente marginalizada - por ser mulher sozinha num mundo machista e patriarcal e por ser pagã, considerada irreversivelmente impura pelos judeus. Em um primeiro momento Jesus a ignora e nem responde. Alguns autores, em uma tentativa de suavizar essa atitude do Senhor, dizem que Ele estava testando a fé dela. Parece que o próprio texto dá outra explicação - Jesus, nestas alturas, considera a sua missão como sendo somente aos judeus, para restaurar a Aliança quebrada. O diálogo parece-nos até chocante pelo termo que Jesus usa para descrever as pessoas de origem pagã - “cachorrinhos”. Mas a mulher usa este termo como gancho para reivindicar a sua atenção - e acaba mudando a visão de Jesus. Diante da sua insistência, motivada pela sua fé, Ele lhe dá um louvor que ninguém mais recebe em Mateus - o de ter “grande fé”.

Este trecho nos traz uma grande surpresa - Jesus aprofunda o sentido da sua missão através do contato com uma mulher pagã - uma pessoa duplamente rejeitada e desprezada nas tradições da religião e cultura dela. Jesus só deseja ouvir a voz do Pai - e aqui o Pai lhe fala através da cananéia! Que lição para nós! Quantas vezes ficamos surdos diante da voz do Pai porque nos fechamos diante de pessoas consideradas pela sociedade vigente, ou pelo legalismo religioso, como indignas, impuras, ou desprezíveis! O Pai normalmente não nos fala por grandes revelações extraordinárias, mas através dos eventos, das pessoas e dos relacionamentos do nosso dia-a-dia; mas, a surdez de espírito nos torna indiferentes a esta revelação diária!

Surpreende o entusiasmo com que Jesus louva a mulher: “Mulher, que fé tão grande ti tens!”. Em que consistia essa fé? Certamente não em uma adesão aos dogmas do Judaísmo, da religião de Jesus, pois ela era gentia, ou pagã. Muito mais consistia na certeza de que Deus atende os gritos dos excluídos e sofridos desse mundo, que Deus é o Deus da vida e da vida plena para todos/as (Jo 10, 10).

Nós temos o privilégio de termos essa verdade revelada em Jesus; mas, embora adiramos aos dogmas e catecismos, cumpre-nos questionarmos se realmente acreditamos na ação libertadora de Deus em favor dos oprimidos. Ou, continuamos criando barreiras de “puros” e “impuros” na sociedade e na Igreja de hoje? Que esse texto nos ajude para que estejamos alertas aos sinais dos tempos, para ouvirmos a voz do Deus vivo nos falando no dia-a-dia das nossas vidas e que tenhamos a coragem de mudar as nossas estruturas mentais, tantas vezes condicionadas por preconceitos raciais, de gênero ou de religião, seguindo o exemplo revelador de Jesus.


Salmo - Salmo 67

Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra. 

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os vossos caminhos
e entre os povos a vossa salvação.

Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra. 

Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra.

Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra. 

Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu temor aos confins da terra.

Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.



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