terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

6º Domingo Comum - Ano A

Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD



SEXTO DOMINGO COMUM

Mt 5, 17-37

“Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrarão no Reino do Céu”

Oração do dia
Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 5,17-37
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 17Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. 19Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus. 
       20Porque eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus. 21Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: 'Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal'. 22Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: 'patife!' será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo do inferno. 23Portanto, quando tu estiveres levando  a tua oferta para o altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta. 25Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. 26Em verdade eu te digo: dali não sairás, enquanto nóo pagares o último centavo.
       27Ouvistes o que foi dito: 'Não cometerás adultério'. 28Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. 30Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno. 
       31Foi dito também: 'Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio'. 32Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério. 
       33Vós ouvistes também o que foi dito aos antigos: 'Não jurarás falso', mas 'cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor'. 34Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35nem pela terra, porque é o suporte onde apóia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei. 36Não jures tão pouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo. 37Seja o vosso 'sim': 'Sim', e o vosso 'não': 'Não'. Tudo o que for além disso vem do Maligno. Palavra da Salvação.

COMENTÁRIO
Quando lemos o Evangelho de Mateus, é muito importante ter em mente o contexto histórico em que foi escrito, pelos anos 85-90 do primeiro século da Era Comum.  Depois do desastre da Primeira Guerra Judaica, culminando com a destruição de Jerusalém e do Templo (que nunca mais seria erguido, diferente da sua destruição pelos babilônios em 587 aC), o povo judeu e a sua religião enfrentavam a possibilidade de desaparecer para sempre.  Um grupo de rabinos reorganizaram o judaísmo a partir de um tipo de “Sínodo” em Jâmnia, perto da atual Tel Aviv, no ano 85.  Sem Templo, sem sacerdócio, sem sacrifício, esses mestres de Lei, quase todos fariseus, reestruturaram o judaísmo, ao redor da uma identidade proveniente de uma adesão estrita à Lei, a Torá.  Diante da fraqueza do judaísmo, não admitiam nenhuma divergência da sua interpretação da Lei, nenhuma dissonância diante das comunidades judaicas.  Mas no seio do judaísmo existia um grupo de discípulos/as de Jesus de Nazaré, que aceitava a Lei como autoridade, mas com a interpretação vindo dos ensinamentos do seu mestre, Jesus.  Como conseqüência, começou um processo de expulsão desses judeu-cristãos da comunidade da sinagoga e se tornou muito importante para eles entender a sua relação com a Lei, e o que tinha mudado com o ensinamento e exemplo de Jesus, o Mestre.
O nosso trecho do Sermão da Montanha de hoje começa exatamente situando Jesus diante da Lei.  A primeira parte enfatiza que Jesus não rejeitou a Lei, mas veio dar a ela o seu pleno cumprimento, o seu verdadeiro sentido.  Portanto, as comunidades mateanas não precisavam sentir-se como traidores da Antiga Aliança, pois a Lei encontrou a sua verdadeira expressão na vida, ensinamento e opções de Jesus de Nazaré.
Devemos superar uma visão errada dos fariseus que freqüentemente existe entre nós, entendendo esse grupo como hipócritas (essa idéia vem da linguagem polêmica de Mt 23, que reflete mais os conflitos do tempo do escrito do que a visão de Jesus).  Mas o texto de hoje mesmo assim é contundente quando Jesus declara aos seus discípulos (e a nós hoje!) “se a justiça de vocês não superar a dos doutores da lei e fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu” (lembremo-nos que em Mateus "Reino do Céu” é sinônimo com “Reino de Deus”, só que tendo comunidade judaica, ele substitui o termo “Céu” por “Deus” por motivos de reverência diante do nome de Deus).  Como foi a justiça dos fariseus?  Era uma adesão estrita à letra da Lei.  Como superar isso – ir além da letra, ao espírito da Lei, que existe para que a vida abunde. Muitas vezes a letra mata, mas o verdadeiro espírito da Lei defende e promove a vida.
O texto de hoje vai ao âmago da questão.  Insiste que não é o suficiente simplesmente obedecer à letra a lei, não matando, não cometendo adultério, etc. O discípulo de Jesus tem que tirar a raiz dessas ações más.  Pois às vezes não se pratica uma ação má por falta de oportunidade ou medo, mas a raiz do mal está no pensamento, no coração.  Por isso devemos cortar a “mão” que nos leva ao erro (mão = maneira de agir) e arrancar o “olho” errado (olho = a nossa maneira de enxergar as coisas, o nosso pensamento).  Devemos cuidar com essas expressões tipicamente semíticas e, obviamente, não levar a pé da letra.
O trecho do sermão termina com um apelo à criação de uma sociedade de transparência e honestidade, pois só se pode dispensar a garantia do juramento, quando não há dúvida que todos falem a verdade.  O grande político Bismarck falou que não se podia dirigir um estado baseado no Sermão na Montanha – mas somos desafiados a construirmos famílias e comunidades com esses princípios, para que já comecemos a vivenciar os valores do Reino, ultrapassando a letra e vivendo o espírito da Lei, à luz de Jesus.

Salmo 118/119

Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!

Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!
Feliz o homem que observa seus preceitos
e de todo o coração procura a Deus!

Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!

Os vossos mandamentos vós nos destes,
para serem fielmente observados.
Oxalá seja bem firme a minha vida
em cumprir vossa vontade e vossa lei!

Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!

Sede bom com vosso servo, e viverei,
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
Abri meus olhos, e então contemplarei
as maravilhas que encerra a vossa lei!

Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!

Ensinai-me a viver vossos preceitos;
quero guardá-los fielmente até o fim!
Dai-me o saber, e cumprir a vossa lei,
e de todo o coração a guardarei.

Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!



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